Satie & Debussy

•Novembro 29, 2012 • Deixe um Comentário

Ainda me emociono e arrepio a ouvir Satie e Debussy. Julgava que com o passar dos anos me enrijecia, parece que não, estou cada vez mais sensível, mais atento ao detalhe. 

Dê-se voz aos sem voz

•Março 29, 2011 • Deixe um Comentário

O momento actual que a sociedade Portuguesa está a passar obriga a uma profunda reflexão.

Os nossos comentadores televisivos relembram-me Dupont e Dupont das aventuras do Tin Tin, será que eles espelham a sociedade Portuguesa?, será que eles conhecem a verdadeira realidade das nossas gentes?

Os nossos canais de comunicação afunilam as buscas e encontram sempre vários sábios que de uma forma eloquente tentam esgrimir as soluções ao País. Mas serão esses Sábios o espelho do País? Porque razão os comentadores televisivos são todos centristas, endinheirados e de boa retórica? Porque razão não dão espaço ao Português bacoco que de uma forma simples e humilde dirá o que lhe vai na alma? Chega de vivermos um mundo artificial e passemos a viver o real… acredito que se nos habituarmos não será assim tão difícil. Acredito que o problema da Lusitânia seja mais existencial do que económico (se fosse económico já teríamos partido umas montras e queimado uns contentores). O Português necessita desesperadamente de uma identidade, devemos deixar de tratar por povo, por gente, por indivíduos e passemos todos a tratar-nos por Portugueses. São esses Portugueses, os “simplórios”, que eu gostaria de ver na TV, aqueles com quem eu me identifique.

Eu protesto contra mim e afirmando-me um revolucionário que luta contra o sistema, contra este mundo hipócrita! Digo que a mudança não começa nas palavras, ela começa dentro de nós, nas nossas atitudes, no nosso comportamento, na nossa relação com o mundo.

Sugiro-vos: Marcelo, Carrilho e Metelo que faleis de Portugal!, que vos pergunteis o que nos levou a comprarmos o nosso ego com o capital. O que foi necessário acontecer para que adoptássemos fervorosamente a Religião do Capitalismo?

Aos meios de comunicação peço para que não sejam burgueses e para convidarem mais Barretos.

Jogo ao Berlinde com os Problemas

•Junho 4, 2010 • Deixe um Comentário

O equilíbrio é, por vezes, absolutamente necessário. O sentimento de dívida

ao ver tanta desumanização, tanta tristeza, tanta infelicidade é fruto de

valores educacionais de grande importância.

Todos os dias tenho necessidade de equilibrar a balança, a da vida

e, para isso, necessito de me descompensar pela estabilidade que tenho.

É frustrante lamentar-me de coisas tão insignificantes como os bens

materiais  e, ao mesmo tempo, quando olho para o meu lado vejo problemáticas

bem diferentes, vivências tenebrosas.

Poderão, eventualmente, ser os conflitos existenciais que me acompanham

desde que me lembro, que me levaram a ter esta noção elevada de justiça.

Os monólogos constantes que tenho impelem-me  a arranjar uma porta de saída

para estas situações, a palavra, a ajuda, o aconchego daqueles que me são

mais próximos, são, sem dúvida, armas fortíssimas para me conseguir

humanizar.

Quando o barco parte o leme e vai à deriva, o que devo fazer? “O meu maior

problema é a total ausência de problemas significativos”.

Numa sociedade apetrechada de problemas em que a engrenagem das rodas

dentadas da vida encrava a cada duas por três, todos nós temos obrigação de

fazer parte da solução.

Os Portugueses têm nos problemas os seus melhores amigos, é com os problemas

que o Português joga berlinde.

Como não posso renegar a minha identidade e como tenho, todos os dias, de

equilibrar a balança, fiz, dos problemas dos outros, os meus próprios. Todos

os dias, os vivo intensamente e são eles que me ajudam a equilibrar a balança

da vida.

Gostaria de me humanizar mais um pouco mas a sociedade, por vezes, não nos dá

as ferramentas para o fazer. Temos de ser nós, tal como o ferreiro, A criar

martelos e dos problemas da vida fazer soluções.

Nina Simone

•Agosto 31, 2009 • Deixe um Comentário

“When I was studying… there weren’t any black concert pianists. My choices were intuitive, and I had the technique to do it. People have heard my music and heard the classic in it, so I have become known as a black classical pianist.”
–Nina Simone

Caminho

•Agosto 27, 2009 • Deixe um Comentário

Escondo-me na escuridão, procurando sempre um rasgo de luz que me ilumine o caminho. Percorro uma estrada que a muitos pertence, mas  nela sinto-me sozinho.

Farto de atropelos, de sonoridades estridentes e de ambientes repletos de cores e luzes, fujo para o vazio como se uma arma me apontassem.  O meu vazio é a preto e branco, limpo, onde as sombras se tocam criando contrastes. É essa a minha vida, cheia de rugas e contrariedades que acumulo ao longo de …

As estradas serpenteiam pelos vales dos anos que por nós passam, apesar de curta, a minha, parece-me já ter imensos quilómetros. Tenho os pés cansados e farto-me de ver as mesmas paisagens.

Andarei perdido?

Os sorrisos de quem nada sabe

•Fevereiro 16, 2009 • 3 comentários

A felicidade é algo utópico como se sabe, um idealismo que nunca se alcança.

Por vezes, dou por mim afundado num velho sofá, acompanhado dos estardalhaços das gastas molas, a pensar que talvez fosse mais feliz se desconhecesse certas coisas.

Já é um facto consolidado este meu pensamento. Aqueles que tudo desconhecem nada têm a temer. É uma vida sem tempero de facto, mas é também uma vida sem lágrimas, desassossegos e angústias. Somos marionetas de um qualquer circo. Rapidamente nos estragamos e perdemos as linhas que nos seguram. Para isso, a ignorância é um bom remédio, uma boa saída para aqueles que não querem sofrer nem saber.

Aprendiz de qualquer coisa, noto que irremediavelmente volto sempre ao prefácio daqueles que outrora fizeram algo de relevo. Esse mediatismo dilui-se a cada passo. Os jovens são agora seres amorfos e mastigados  por uma trituradora social que os formata e enlata para uma vida que não é a deles.

Acabarei por sofrer, por descobrir o que não quero, mas saberei. A máquina encravou.  Vivemos mais quando conhecemos e sabemos. E eu arranquei umas folhas, queimei-as e quero, novamente, voltar a aprender.

 

Photo By Ricardo Pires

Photo By Ricardo Pires

Último Terminal –MORTE

•Fevereiro 16, 2009 • Deixe um Comentário

A última paragem será a morte. É esta a única certeza absoluta que paira sobre a mutação constante do Universo. Cansei-me da doença dos porquês, da pergunta e a inevitável  procura de respostas que  não estão ao meu alcance. Porquê mutilar-me com questões às quais não quero responder? Já aqui falei da minha parvoíce, reclamei-a como uma das minhas virtudes e é o de facto. Continuo a reafirmá-la como minha. A parvoíce traz com ela alguns defeitos, esta como todas aquelas características que ingenuamente vemos como valores. A minha parvoíce está doente, violentada, com defeitos que são inerentes às qualidades de um ser imperfeito. É esta qualidade, que para muitos é um defeito, que me permite percepcionar situações e ironizar sobre temas sérios, tantas vezes envenenados por quem, por direito, os deve defender.

Mais uma vez, acredito que me chamarão de tolo ou polémico, de miúdo que não sabe o que diz. Deixemos que a idade que carrego sirva de desculpa para os meus desabafos polémicos.

Esta última campanha contra a sida que passa assiduamente nos canais de televisão despertou em mim algumas sensações e sentimentos. Pena. Compaixão. Medo. Tristeza. [colocava este enumeração assim com pontos finais para ganhar mais expressividade] O spot consegue, de facto, apelar aos sentimentos mais nobres do ser humano. Mas que sentiria eu se fosse um doente de SIDA depois de ver a publicidade?

Não utilizem o sentimento das pessoas em vão. Não banalizem as situações. Não influenciem as pessoas tendo como argumento o medo. Não utilizem estereótipos. Não contem histórias. A publicidade não deve ser utilizada para certos fins, ela subverte a realidade e transfigura-a. Certas situações devem ser tratadas com muita seriedade, sem criar uma imagem que não corresponde  à realidade.

 

Terminal - Photo By Ricardo Pires

Terminal - Photo By Ricardo Pires

Deus Veste Calções e Calça Chinelos

•Setembro 1, 2008 • 5 comentários

Deus tem de ser um gajo super descontraído. Por vezes, tenho ataques de fé, fruto da necessidade. Todos temos fé, mesmo aqueles que como eu se dizem cépticos. Fé em algo, esse algo não passa de um fantasma que me visita quando me assalta a fragilidade. Nas minhas habituais deambulações, reparo, que o mundo, sob o ponto de vista de alguém que hipocritamente se vê boa pessoa, é demasiado injusto. Estamos a perder o jogo que à partida só teria um vencedor. A doutrina religiosa que nos foi injectada desde jovens e que nos indicava que só o bem e o bom venceriam está contaminada. Andaram a contar-nos uma história que afinal não era verdade. E Deus? Deus está na praia a apanhar sol! .É, por isso, sou céptico e descrente, não posso acreditar num mundo demasiado injusto!!! Talvez uma descrença que me aproxima de uma vontade indomável de acreditar, acreditar em algo que aproxima a justiça das pessoas. Acabei por me tornar um nítido egocêntrico. Acredito em mim. Já nada mais me resta. Assim, a Deus não incomodo, não terá tanto com que se preocupar.

 

 

A Carapuça é para quem a enfia

•Setembro 1, 2008 • Deixe um Comentário

Passeio Publico 

Jorge Laiginhas, Escritor (in, Jn, Sábado 30, Agosto 08)

 

A Carapuça é para quem a enfia

Vitivinicultura Crise avinhou-se nas Adegas Cooperativas da Região Demarcada do Douro

Ao que me dizem a crise avinhou-se nas Adegas Cooperativas da Região Demarcada do Douro. E ter-se-à avinhado de tal modo que, os lavradores, bêbados de crise, estão sem forças para se botarem à vindima que aí vem É verdade que, como exemplo, no concelho de Alijó a alegada crise já destilou a Adega Cooperativa de Sanfins do Douro. Consta-me que o alambique da crise já ferve em cachão, preparando-se para outras destilações.

Sou historiador antes de ser cronista e, porque em bastas ocasiões a história se repete, faço minhas, a propósito da propalada crise das Adegas Cooperativas, as palavras de Rómulo Ribeiro escritas no longínquo ano de 1972!

“As aves migradoras, se faz bom tempo, elas vêem, se faz mau tempo elas vão. Assim têm procedido, e procederam este ano, alguns sócios das cooperativos. Defendemos um cooperativismo válido que não fique inferiorizado perante as realizações das empresas capitalistas, em igualdade de meios. Também já o temos dito: as cooperativas fazem diluir o sentido de responsabilidade e conduzem a que nem sempre se alcance o grau de eficiência desejado. Mas isso não é cooperativismo, senão o seu arremedo. O mal não está no cooperativismo, mas na sua ausência. Porque o cooperativismo impõe a participação, a conjugação de forças, a mais-valia de meios e processos. Há que tirar partido das cooperativas. Não basta ter delas o rótulo ou as instalações. Portanto cada sócio deve ser na cooperativa, e de pleno direito, um elemento de controle e de estímulo.

Mas sucede que por vezes os sócios se iludem com preços esporádicos, acidentais, praticados fora da alçada da cooperativa. Seduzidos por lucros a curto prazo, abandonam as cooperativas, defraudando-as, desacreditando-as. A longo prazo, perdem, não ganham. Mais ainda: requerem sanção, porque favorecem o inimigo das sua próprias organizações. Ou são ou não são. Entrarem com o tempo bom, saírem com o tempo mau, como aves de arribação, é que não pode ser. De contrário quem paga as despesas obrigatórias das cooperativas? E quem vale ao pequeno produtor na hora da crise? O pequeno produtor não tem outra defesa senão a cooperativa. “

Pois foi. Pois é. A carapuça é para quem a enfia.

Chegou-me à caixa de correio o “Projecto para salvar a Casa do Douro”da autoria do jornalista, e viticultor duriense, Pedro Garcias – candidato a Presidente da Direcção da Casa do Douro. Li o manifesto com o entusiasmo de quem acredita que o país será mais forte se a Região Demarcada do Douro estiver de boa saúde. E, nos dias do agora, não está.

Claro, sintético – ao jeito dos paladinos do Douro que pensaram e edificaram a Casa do Douro na primeira metade do século vinte – Pedro Gracias propõe cinco medidas para “salvar a casa do Douro”. São elas o saneamento financeiro da instituição, a moralidade de direcção; a ligação entre a Casa do Douro e as Adegas Cooperativas e novos desafios para os tempos novos que vivemos.

Torcato Magalhães (1856-1929) um dos Paladinos do Douro, escreveu, a propósito da crise de Douro das primeiras décadas do século XX: “Se lançarmos uma vista retrospectiva às campanhas passadas em relação com as presentes, nós encontrámos hoje as mesmas elites de há dez, ou vinte anos, sem um alistamento de energias novas a substituir faltas ou a irrigar de sangue novo as existentes.”

Pois foi. Pois é. A carapuça é para quem a enfia.

 

 

HORIZONTE

•Agosto 19, 2008 • Deixe um Comentário

As coisas complicam-se, o muro fecha-se, dou o último bocejo.

O último alento de quem vive na esperança de algum dia poder viver realmente. Esta benesse que nos foi dada no acto de nascer, aparece-me agora, como uma maça que envenenou e continua envenenada. Ponho de parte problemas existenciais, que os tenho. Afinal sou apenas um miúdo. Personagem de conto Kafquiano que quer afastar pessoas, elas não tem piada e agora perdem sentido. Perdem sentido pela palidez das suas caras nesta teia sensacional que nos enrola e nos consome. Teimo em percorrer uma estrada onde não vislumbro o horizonte e não me leva a lado algum. Teimosia esta que aprendi não sei onde, talvez  contrariando aqueles que teimam em pintar a cara com cores que ela própria desconhece. Procuro lugares em Dostoiévski Kafka e Nietszche mas agora vejo, eles também percorriam, sozinhos, estradas que não tinham horizonte. Esse horizonte existia para eles, mas estava muito longe para outros. É na companhia desses meus parceiros de leituras que encontro alento para conseguir percorrer a estrada sem “horizonte”. A mesquinhez dos caras pálidas, da estirpe Ocidental, alimenta a minha solidão, é ela o remédio para este sabor amargo que por vezes trago para casa. Aprendi a falar menos para as pessoas e mais para os livros, as pessoas não sabem o que dizer e os livres dizem-nos sempre o que queremos saber. Por isso deixo-os no chão, nunca nas prateleiras, ai acomodam-se, deixo-os no chão para quando chegar tropeçar neles e saber que estão ali.